Cantata de Natal
Estrela, Belém, manjedoura, Emanuel. A semântica se repete
ano após ano nas vozes harmoniosas dos que cantam uma história tão conhecida.
Não são poucas as vozes, pois os anjos costumam juntar-se a nós. Ou, seguindo a
ordem dos fatos, nós nos juntamos a eles ao constatar e recontar sobre o nascimento
do bebê. As melodias também se repetem, o que permite a quem as ouve cantarolar
em algum momento. É um canto conhecido, você também já deve ter ouvido: Hosana nas alturas!
Não se sabe, de fato, se a data é precisa. Parece que foi
escolhida por alguém. Não importa. Escolheram bem o dia da lembrança. Acho 25
de dezembro o dia mais bonito do ano. Deve ser pela quantidade de tempo da minha
vida que festejo a data especial. Nem me lembro quem me contou pela primeira
vez sobre o nascimento do menino. O que me lembro, com certeza, é que durante
toda a vida, ouvi, contei, cantei e recontei sobre o Messias. Teatro, dança, fantoche, leitura,
testemunho dos meus pais, meus avós, meus amigos. Diversas foram as maneiras de
contar sobre o Emanuel, na manjedoura, em Belém, onde uma estrela no alto
brilhava.
Brilha também, na avenida Paulista, o berço capital da
cidade. Natal também é festa comercial, vitrines iluminadas, compras
enlouquecidas. Encontros e saudade. Há quem não se lembre do Cristo, mas gosta
da reunião de família. E até do Papai Noel. A fantasia do “Bom” Velhinho (quem é bom?) fortalece a tradição dos
presentes e povoa a imaginação das crianças. Eu também já lhe escrevi muitas
cartas e não me incomoda esse personagem. É tão inofensivo quanto o Lobo Mau. Ajuda
a desenvolver a imaginação na infância e o pensamento abstrato quando nos
tornamos adultos. Não brilha mais que a Estrela da manhã.
Desde 2005, conto o
Natal cantando a Jesus. São meses de preparação, encontros, ensaios, ajustes,
amizades, comunhão. Não é a voz do solista a mais importante. É o encontro de
todas as vozes. Ouvimos a música em grupos separados. No meu caso, com os
contraltos. Estudamos individualmente letra e melodia, nos juntamos ao nosso
naipe e acertamos cada detalhe. Nessa fase, às vezes, a canção soa estranha.
Principalmente para o contralto que parece cantar na contramão dos outros. Então
se reúne todo o coro e a música vai se formando, as notas vão se harmonizando e
vai surgindo um som maravilhoso de tanta gente diferente que, junta, constrói
um todo comum tão agradável de ouvir.
Lembro-me de como fazíamos isso sem Internet na igreja onde
cresci. Escutávamos pouco a pouco as canções e, contando um com o ouvido mais
afinado do outro, tentávamos chegar o mais perto possível da melodia do CD. Espalhávamos os naipes nas casas próximas à igreja para ensaiar. Hoje a tecnologia nos ajuda bastante. Ainda assim, é bem trabalhoso chegar
aonde queremos quando começamos a ensaiar uma cantata.
Gosto dessa união que cantar em coro nos permite. É preciso
tolerar as diferenças, dar a mão a quem vai mais devagar, esperar o comando do
maestro, silenciar quando dá vontade de conversar. A cantata para mim é
metáfora de tantas coisas que, em unidade, podemos produzir. Nós seres humanos
somos maravilhosos quando anulamos o ego e nos juntamos em favor do bem comum. A
cantata pra mim é lembrança dos bons momentos que passei com meus irmãos e
amigos do Avivamento Bíblico, ralando pra produzir um musical. É a recordação
das festas na casa da minha avó. É a felicidade de voltar a participar de um coro,
desta vez tão grande!
No último domingo, quanta gente que eu conheço se reuniu
para contar e cantar sobre a Esperança que nasce no Natal! Por que repetir a
semântica e as melodias todos os anos? C.S. Lewis nos diz que é para formar o hábito da fé. (...) Temos
que nos recordar continuamente das coisas em que acreditamos.
Quando eu canto, toda a história que conheço sobre Jesus se
passa na minha cabeça a cada canção. Tudo o que Ele representa, tudo o que Ele
é para mim. Tudo o que eu ainda nem sei que Ele é para mim. As lembranças do que
vivi retornam ao meu coração. Eu canto para Jesus, porque um dia a fantasia do
natal se separou da fé. Em meio às minhas lembranças e práticas religiosas,
meus olhos se abriram e eu vi bem alto uma Estrela brilhando me indicando que
em Belém havia, numa manjedoura, um menino chamado Emanuel. Deus conosco agora é Deus comigo também. Este
é o natal de Jesus! E como disse o pastor Ed René no domingo, o mais espantoso do natal não é saber que
o menino é Deus, mas saber que Deus é o menino.
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