quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Singelo Natal



Singelo Natal







Comemorar o Natal ano após ano é como ver um álbum de fotografias. Cada imagem relembrada desperta uma emoção. O movimento das mãos virando a página traz ritmo ao pensamento que imagina a cena. Maria e José procurando lugar para se hospedarem; os donos das hospedarias balançando a cabeça negativamente; o casal finalmente encontrando abrigo numa estrebaria; o menino nascendo e sendo envolvido em panos, depois aconchegado numa manjedoura. No alto, uma luz muito forte brilha: a estrela de Belém.

Talvez o casal tenha se encantado com tão reluzente estrela, mas eram os reis magos quem se sentiam felizes por vê-la. Ela os guiou. Foi por ela que se orientaram até chegarem onde estava a criança.







A sagrada família, os pastores de ovelhas que por ali apareceram, os sábios do Oriente não tinham ideia de quantas vezes essas cenas seriam imaginadas, representadas, interpretadas. É de tamanha simplicidade e grandeza ao mesmo tempo. Na minha imaginação, Maria é quase uma adolescente ainda. Deveria estar assustada e jubilosa como toda mãe de primeira viagem. José preocupado em proteger a esposa e a criança a ele confiada. Talvez por alguns instantes se esqueciam que aquele bebê não era um bebê qualquer. Certamente, eles se esqueciam por alguns instantes e tentavam acalmar o seu choro. E ficavam maravilhados olhando os olhinhos abertos. Todo recém-nascido causa espanto e alegria ao mesmo tempo. Até que um estranho som os faz lembrar que o menino é especial. Anjos cantam. Entoam uma melodia celestial ao constatar que o plano de nascimento de Deus tinha dado certo.




Não dá para imaginar como cantam os anjos! Mas como cantamos nós, mortais? Cantamos nas mais variadas situações. Para ninar a criança que precisa dormir. Para comemorar o aniversário de alguém querido. Quando a torcida quer empurrar o time. Cantam os revoltados quando querem protestar. Canta o apaixonado na janela da amada. Cantam os trabalhadores para suavizar a dura labuta. Cantamos e colocamos para fora a emoção crescente dentro de nós. Se já é misterioso falar, quão milagroso me parece transformar em harmoniosos sons as palavras!





Cantando eu costumo comemorar o natal. Mas há quem nem mesmo queira brindar nesta noite. Mais de uma vez escutei este ano que muita gente não gosta das festas de fim de ano. Soam falso o abraço, o encontro familiar, a troca de presentes. Talvez eles estejam questionando: o que é que estamos comemorando mesmo?

O Natal não é apenas uma festa cristã. Com certeza não. A data está pintada do vermelho Coca-cola do capitalismo frenético. Há luzes que não são de Belém. Há sons que não são dos anjos. Há ausências que ficam mais evidentes nessa época... e tudo vai ficando assim meio sem sentido. Vai mesmo se tornando vazia a celebração.

Eu também já me desiludi com a festa de Natal. Quando era criança, tudo me encantava. Havia uma vinheta que o SBT apresentava algumas semanas antes do dia 25. Era em contagem regressiva: “faltam tantos dias para o Natal! ”. E o som característico ao fundo. Aquilo ajudava a aumentar a expectativa para a Noite Feliz. Presentes, cartas ao Papai Noel. A casa da minha avó materna cheia de parentes e amigos. Música, comida, abraços. No dia seguinte, íamos comemorar com a outra avó. Mais comida, mais presentes, mais abraços. Mas os avós se foram, o ritmo da família mudou. De repente, foi surgindo uma nostalgia misturada com um vazio sem explicação. Ficamos adultos, não existe mais a contagem regressiva do SBT. Sabemos que nem sempre dá para comprar presentes. Sabemos que de fato alguns abraços são falsos ou,simplesmente, mecânicos. Por que comemorar?



Deixei a expectativa de lado. Há alguns anos, eu comemoro cantando. As comemorações natalinas começam meses antes na preparação do musical. É quando voltamos a contar a história do rei nascido menino. Quando relembramos o coro de anjos. Cantar traz significado à festa. Geralmente, o musical acontece alguns dias antes do feriado. O que não garante que a euforia se estenda até o dia 24.


Eu pensei este ano sobre o Natal. Eu pensei no vazio das pessoas. Eu me entristeci. Então me voltei para a singeleza da celebração.

Na noite de Natal, vamos cear com a família. Vamos abrir o álbum novamente e relembrar a ternura de José e Maria. Eles não tinham uma hospedagem luxuosa, mas tinham um coração agradecido ao verem o menino. Eles não tinham abrigo, mas tinham a melhor dádiva que poderiam ter: o Príncipe da Paz nasceu. Em meio à simplicidade da reunião familiar irrompe um som estrondoso, celestial, um canto maravilhoso que enche de espanto os nossos corações. É simples o natal, mas espantoso: o menino que nasceu é Deus entre nós! É a promessa de paz e de um reino que nunca terá fim.

Que na noite de Natal, bem como em todas as noites do ano, em cima de cada lar que celebra a Jesus brilhe uma luz indicando que ali nasceu o Salvador, para que os que ainda o procuram possam encontrá-lo.





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